‘Só’ porque ele se torna pequeno se olharmos a população do planeta.
Com 7 bilhões de pessoas, isso dá algo como 16,6 mil metros quadrados por pessoa. Algo como um terreno de 129 metros de frente por 129 metros de fundo. O tamanho de um quarteirão comum. E ele está diminuindo. Por exemplo, é a metade do espaço que cada um ‘tinha’ no início da década de 1970.
Pouca gente tem uma casa que ocupa um quarteirão e pode parecer muito, mas não é. Com exceção de água, frutos do mar, petróleo e alguns minerais, todo o resto você precisa produzir ou extrair desse quarteirão. Carne? Você precisa criar suas vacas no seu quarteirão. Você quer um carro? Você precisa ter sua fábrica no seu quarteirão. Você quer uma roupa nova? Você precisa criar suas ovelhas e ter sua fábrica no seu quarteirão. E se você tem medo de seu vizinho, você terá de construir sua delegacia (e possivelmente uma cadeia) no seu quarteirão.
Leopardos têm territórios que chegam a 50 milhões de metros quadrados (um ‘quarteirão’ de 7Km de frente por 7km de fundo), e um único tigre pode ter um território que chega a 100 milhões de metros quadrados (10km por 10km). E suas necessidades são muito mais simples do que as nossas.
Se fôssemos viver solitariamente como boa parte dos animais do topo da cadeia alimentar, precisaríamos de um território muito maior. Mas, como elefantes e leões, resolvemos viver em grupos. Os nossos são chamados tribos, comunidades e sociedades.
É graças a esse arranjo social que conseguimos sobreviver. Compartilhamos ‘nossos’ territórios, utilizando-os com mais eficientemente. Assim, temos espaço para a fábrica de carros e a delegacia, porque só precisamos de um de cada em nossa cidade. E importamos o que não dá para produzir eficientemente em nosso quarteirão, e exportamos o que produzimos eficientemente.
É apenas graças à utilização eficiente do espaço que conseguimos sobreviver como espécie.
Em um grupo pequeno você consegue garantir as regras de utilização eficientes usando pressões morais e pessoais. Mas, em qualquer grupo acima de 150 indivíduos (chamado de ‘número de Dunbar’), a utilização eficiente dos recursos sociais – inclusive da terra – precisa ser garantida por leis e instituições. Se essas leis e instituições falham, há conflito. Guerras entre países, guerras civis, golpes de estado, invasão de terra e assim por diante.
E aí entra o segundo elemento importante: nossa população está crescendo. Em 1850, quando nosso Código Comercial foi feito, a população mundial mal passava de 1 bilhão. O ‘seu quarteirão’ tinha quase 100 mil metros quadrados (1km por 1km). Mas, em 2025, ‘seu quarteirão’ será de menos de 15 mil metros quadrados (120 metros por 120 metros). Para mantermos o mesmo nível de conforto, precisaremos aumentar a eficiência com que utilizamos os recursos – inclusive terra e áreas urbanas – disponíveis em quase 7 vezes. No espaço onde em 1850 havia uma laranjeira, agora precisamos plantar 7 laranjeiras (utilização de recursos) ou fazer com que a laranjeira que já existia produza 7 vezes mais laranja (aumento da eficiência). Ou uma combinação entre essas duas coisas.
Só evitamos conflito se as leis e instituições protegem não só os recursos disponíveis, mas também os mecanismos que aumentam a eficiência com que os utilizamos. As únicas outras soluções são diminuir o tamanho da população (algo controverso, como o que a China fez, por exemplo, com a proibição de mais de um filho por casal) ou aceitarmos que teremos um padrão de vida pior que o de nossos pais e avós (algo que geralmente também leva a conflitos porque ninguém quer se esforçar para ver o seu padrão de vida cair).
PS: Com um território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e uma população de 190 milhões, o ‘quarteirão’ do brasileiro tem 45 mil metros quadrados. Um ‘quarteirão’ de 212 metros por 212 metros. Mas isso inclui todas as florestas, Pantanal etc. A Amazônia sozinha ocupa mais de 40% desse território e, se quisermos preserva-la, o nosso quarteirão já cai para 163 metros por 163 metros.